Entrevista: Paulo Morais, Diretor Regional de Portugal e Brasil da Crédito y Caución
Conheça a opinião de Paulo
Morais, Diretor Regional de Portugal e Brasil da Crédito y Caución:
1. A colaboração para a
inovação promove a complementaridade entre parceiros. De que forma esta
colaboração pode contribuir para o aumento da competitividade das PME?
Esta forma de colaboração é fundamental para todas as empresas, e muito especialmente para as PME. Pelas suas características, esta tipologia de empresas, em muitos casos, não tem, ainda, a capacidade de deter nas suas estruturas organizativas funções ligadas à Inovação e ao Desenvolvimento. Muitas vezes relacionamos esta inovação e desenvolvimento quase exclusivamente com questões de produto, que de facto são importantes, mas deverá abranger também a capacidade das empresas analisarem e otimizarem processos produtivos, modelos de distribuição ou sistemas de organização e gestão. A possibilidade de colaborar com outros parceiros que aportem valor nestas vertentes é obviamente um fator de estímulo à competitividade e ao desenvolvimento. Em especial as parcerias e/ou colaborações que as PME possam estabelecer com entidades no âmbito da educação, da investigação, ou com outras entidades que estimulem a partilha de experiências e conhecimentos, ou mesmo o desenvolvimento de projetos colaborativos entre empresas. É preciso estimular o nosso tecido empresarial a expandir a sua rede de contactos e interações para lá do modelo linear fornecedor-cliente.
2. "Quase um século de inovação permanente” é um dos motes da comunicação digital da Crédito y Caución. A inovação permanente é um dos segredos para o sucesso da empresa?
Claramente. A inovação tem sido a pedra de toque da empresa, que tem procurado estar sempre na vanguarda do seu negócio e puxar o setor para novos paradigmas, tendo em mente as dinâmicas do mercado e a necessidade de servir o cliente da melhor forma possível. Realço o pioneirismo na incorporação das tecnologias da informação e do novo mundo digital, fundamentais para o conhecimento, e a partilha desse conhecimento à escala mundial, porque é essa a nossa dimensão. Na agilização e otimização de processos, e na capacidade de levar os nossos serviços a plataformas digitais, onde se movimentam os clientes e consumidores de hoje, e onde esperam encontrar tudo aquilo que necessitam na sua vida e na sua atividade. Claro que isto implicou investimento, mas houve muita clareza na necessidade de o fazer para podermos manter relevância, ganhar dimensão e continuar a crescer.
3. O Paulo é diretor regional de Portugal e do Brasil. Sente que as empresas portuguesas têm uma mentalidade inovadora?
Sim, sinto que há uma evolução positiva no caminho para essa mentalidade. Tem de ser assim, o mercado atual não se compadece com imobilismos, com mentalidades e formas de gestão pouco abertas à inovação, e ao questionamento em busca da melhoria contínua.
Sinto que as novas gerações têm sido capazes de renovar mentalidades antigas, e de introduzir novas inteligências na gestão das empresas, com repercussões extremamente positivas no ambiente empresarial.
4. Sendo diretor regional da Crédito y Caución em Portugal e no Brasil há mais de 10 anos, que lições fundamentais de liderança quer partilhar com os líderes das PME portuguesas?
O primeiro aspeto que gostaria de destacar sobre esta questão é que liderar não é uma tarefa assim tão fácil como se possa pensar, principalmente quando temos que chefiar equipas em diferentes países, com culturas e idiossincrasias próprias. O senso comum só por si não serve, porque cada um de nós tem uma definição própria desse conceito. Mas, obviamente, pode-se aprender. Aprender com os próprios erros, mas, acima de tudo, estudando e observando aqueles que já passaram por situações complicadas e que cometeram aquele tipo de erros que não convém repetir.
Se tivesse de escolher duas ou três lições daquilo que a experiência me proporcionou, diria que:
- Dar e ganhar a confiança da equipa, criando um ambiente de franqueza e de comunicação fácil e íntegra, é fundamental;
- Nos momentos mais críticos, quando tudo parece que vai desabar, é importante estar lá, dar apoio à equipa, fazê-los acreditar nas suas capacidades e,acima de tudo, manter a calma;
- Não é por se mandar, por se sentir superior, pela sua posição hierárquica, e muito menos pela arrogância, que se ganha o respeito e a admiração da equipa. O respeito mútuo, o saber dar autonomia, o ser generoso e crítico quando necessário, são alguns dos aspetos basilares para se ser reconhecido como líder. Mas, atenção, se não houver competência profissional, tudo o resto é bem mais difícil!
5. Considera que os custos associados à inovação permanente são considerados um grande entrave para as PME inovarem?
Sim, quando pensamos em inovação
de produto ou na incorporação de novas tecnologias e sistemas. São custos que
oneram bastante o desempenho das empresas, e que podem ser proibitivos para
empresas e setores com maiores desafios de competitividade e com maior
concorrência. Há que encontrar soluções para apoiar as PME. Novos modelos
colaborativos que repartam custos e disseminam vantagens são, certamente, uma
solução. Outra solução será a aproximação ao espaço universitário, bem como os
apoios comunitários, estatais e setoriais. Tudo deverá ser explorado desde que exista
uma mentalidade voltada para a inovação, que compreenda a importância que deve
ser dada a esta vertente e os esforços que são necessários fazer para a
dinamizar.
6. Quais os principais motivos para Portugal estar atrás dos países da UE28 no que concerne aos indicadores da Inovação, nomeadamente a baixa colaboração entre empresas e o baixo investimento em I&D empresarial?
Explica-se pela necessidade de trabalhar mais essa mentalidade de inovação de que se falou, por exemplo. Estamos a evoluir, mas há que ser mais rápido e mais assertivo. É necessário estimular a colaboração, há que trabalhar a aproximação entre empresas e polos universitários. Estas são matérias e temáticas debatidas há décadas e sempre enfatizadas, mas a realidade diz-nos que ainda há muito terreno para palmilhar. Parece que nos faltam modelos para criar e reforçar esses elos. Esse indicador diz-nos que não estaremos a construir o futuro com a solidez necessária para proteger o nosso tecido empresarial e o crescimento do nosso país. As empresas têm de se consciencializar que sem inovação não há crescimento e que sem crescimento não há futuro.
7. O que considera que pode ser feito de forma diferente em Portugal para nos tornarmos um país mais inovador?
Não sei se tenho o modelo simplificado para isso: melhorar a qualidade da gestão de topo das nossas empresas; melhorar a ligação entre empresas e organizações de ensino e polos de inovação; melhorar a colaboração entre as empresas e todos os parceiros na sociedade; reforçar os investimentos em Inovação & Desenvolvimento; melhorar a formação dos colaboradores; reforçar os modelos colaborativos; estudar modelos de sucesso e ser capaz de reproduzi-los, adaptá-los, melhorá-los.
No nosso espectro de atuação estamos aqui para ajudar as empresas a reduzir o risco dos seus negócios, a crescer para novos mercados, e com isso ganhar maior capacidade de investimento em modelos inovadores.
8. De que forma o Projeto AEP Link é importante para o aumento da cooperação entre as PME?
Creio que foi uma experiência muito positiva, inovadora e necessária. Foi importante para conhecer aquilo que as empresas, na primeira pessoa, dizem necessitar. Foi importante para testar uma ferramenta de apoio ao desenvolvimento de uma atitude colaborativa que precisa de ser reforçada entre o tecido empresarial, e entre as empresas e outras partes interessadas. Vamos ver o que nos dizem os dados de balanço da iniciativa, mas creio que foi um passo muito acertado ao qual é necessário dar continuidade. Em que moldes? Com que ajustamentos? Isso dependerá da avaliação dos resultados. Apenas posso dizer que espero que o projeto tenha continuidade, que se avaliem os pontos fortes e os aspetos menos conseguidos, que se avaliem as oportunidades, e que se definam os próximos passos. É importante chegar a mais empresas, divulgar o projeto, dar-lhe um cunho internacional, conhecer modelos de sucesso fora de portas e dar maior expressão e divulgação à necessidade de uma abordagem colaborativa entre as empresas, desmistificando a ideia de que o segredo é a alma do negócio. Ou seja, a colaboração é, nos dias de hoje, e para as PME em particular, um trunfo num jogo difícil que deve ser bem jogado.