Inovar é uma questão de sobrevivência para as PME
A AEP - Associação Empresarial de Portugal esteve dia 26 de setembro em Castelo Branco onde reuniu meia centena de empresários no CEI – Centro
de Empresas Inovadoras para discutir as boas práticas que garantem PME mais
competitivas. No LINK LAB CASTELO BRANCO os empresários albicastrenses
indicaram os caminhos para promover empresas mais fortes, mais e melhores
negócios, e um tecido empresarial mais robusto: inovar é uma questão de
sobrevivência, o mundo digital é uma oportunidade fantástica porque dilui as
fronteiras geográficas e permite aos empresários mostrar o que as suas empresas
fazem, e as redes de cooperação são fundamentais para criar escala.
Paula Silvestre, diretora de Competitividade da AEP, deu as boas-vindas aos participantes, e apresentou o projeto AEP LINK que visa estabelecer e fortalecer uma rede de colaboração, assente nas dimensões chave para a competitividade das PME – investimento, inovação, economia digital e cooperação, que contribuem para o desenvolvimento regional e para a economia nacional. «Queremos apoiar as empresas no seu desenvolvimento, numa lógica de cooperação», explica.
«A dinâmica empresarial de Castelo Branco é
muito positiva, só este ano nasceram mais 300 empresas», diz, ao mesmo tempo
que desafia os empresários a partilhar com a AEP as suas dificuldades e
necessidades, através do preenchimento do questionário que está
disponível em aeplink.pt. «Queremos empresas mais rentáveis, criar mais e
melhor emprego, negócios mais rentáveis: digam-nos o que precisam, para
encontrarmos as melhores ferramentas e soluções para as vossas empresas».
«Este projeto destina-se a pôr as empresas e a
economia portuguesa a crescer ainda mais», reforça Pedro Janeiro, strategy & operations manager na Deloitte.
«Precisamos de melhor atividade económica, e tendo as PME portuguesas problemas
de escala, não vamos a lado nenhum sozinhos, precisamos de nos unir, cooperar»,
considera o economista, desafiando os empresários a fazer parte da rede AEP
LINK. «Onde existem necessidades, o projeto procura soluções, digam-nos do que
precisam para crescer».
Uma outra ferramenta central do projeto AEP
LINK foi apresentada por Gonçalo Azevedo Silva, strategy & operations consultant na Deloitte: o dashboard
interativo da performance empresarial, uma plataforma dinâmica e em
atualização contínua, onde podem ser comparados a performance e os indicadores mais relevantes para a tomada de
decisão dos empresários, com a informação real da economia, por regiões e por
setores de atividade (nas dimensões: economia regional, desempenho, investimento
e recursos humanos). «Trata-se de uma ferramenta de posicionamento, que deve
servir de base para traçar objetivos, e é útil a qualquer gestor ou empresário.
Para tomar decisões precisamos de conhecer o mercado!».
Foi ainda destacada a bolsa de oportunidades
AEP LINK, um potenciador de colaboração, que pretende promover os negócios
encontrando o parceiro ideal. A bolsa permite aos empresários publicar e conhecer
oportunidades de cooperação e identificar os parceiros certos para cada
projeto.
O encontro prosseguiu com um painel dedicado à
inovação, dinamizado pela Crédito y Caución e moderado por Pedro Janeiro.
Milene Carmo, administradora da Prisca, diz que a inovação no produto é a mais
visível, mas a inovação de processos também é importante para reduzir custos,
ter produtos mais apelativos e renovados. «Para uma empresa ser manter
competitiva no mercado tem de ser inovadora», atesta.
Para a responsável a interioridade cria alguma dificuldade na contratação de profissionais qualificados, o que implica muita rotatividade, e é um obstáculo à inovação. Há que criar apoios centrais para colmatar estas dificuldades específicas do interior.
Além destas barreiras ao crescimento, Milene
nomeia ainda os custos inerentes à inovação, além do peso da carga fiscal -
opinião partilhada pelos colegas de painel. Depois da pesada carga fiscal
aplicada, o que resta para inovar?, questiona João Fernandes, administrador da
Maxifer. Para ele, «inovar é pensar mais longe».
Sobre as especificidades do interior, João
Fernandes considera que há dificuldades na mobilização, porque o País está
"cortado” na vertical, propondo "dividi-lo” na horizontal, para criar mais
oportunidades, porque "têm todos as mesmas vontades”. Sobre a retenção de
recursos humanos, importa realçar que os salários no interior são geralmente
baixos, e que os jovens se sentem "obrigados” a sair do distrito para ir para
outras zonas do país, o que depaupera o interior de talentos, e de potencial de
inovação. João Fernandes diz que é necessário dar a oportunidade às empresas do
interior de poder "lutar” ao mesmo nível que as empresas do litoral, ou das
grandes cidades.
Para Milene Carmo e João Fernandes não se pode
desistir perante as dificuldades inerentes aos processos de inovação, ao mesmo
tempo que se tem de apostar no envolvimento das equipas nos objetivos da
empresa. É preciso acreditar nos nossos RH, diz Milene, e estreitar as relações
entre os centros de inovação e as empresas.
António Carmona, administrador da Manuel
Rodrigues Herdeiros (MRH), diz que no seu mercado é difícil inovar: o presunto
é um produto muito "fechado”. Ainda assim, as empresas têm de continuar a
inovar, se não, desaparecem. «Inovação é uma questão de sobrevivência. Temos de
aprender a contornar as dificuldades inerentes à própria área, para nos
mantermos competitivos», inovar no processo produtivo, na gestão, na eficiência
interna, melhorar e diversificar o produto, prever o que o mercado anseia e nos
vai pedir. Falamos muito de inovação, diz, mas as empresas investem pouco no
I&D, além da tendência de "andarmos” sozinhos no mercado - esta é uma
tendência que tem de reduzir, considera.
A MRH tem hoje a primeira geração de
colaboradores com formação, e isso faz uma diferença enorme na inovação, diz
António Carmona. No entanto, um obstáculo crucial é o facto de o poder de
decisão estar demasiadamente longe da realidade do País, «é nosso papel fazer
os políticos ver isto». O poder central tem de estar próximo das empresas, como
o poder local está nas cidades mais pequenas. O mesmo acontece com a banca,
quando queremos investir, temos decisores que não conhecem os projetos, o
terreno, o tecido empresarial. «A flexibilidade e o esforço dos empresários não
estão a ser acompanhados».
A fechar o tema da inovação, António Carmona
considera que é o caminho necessário: há que melhorar os produtos, motivar os
colaboradores, e há que trazer os centros de decisão não só para o interior mas
para dentro das empresas. «A proximidade é essencial para inovação sustentável»,
atesta.
O painel dedicado à economia digital foi
promovido pela Konica Minolta, e moderado por Júlio Boga, senior account manager na Deloitte. Vasco Falcão, CEO da Konica
Minolta Portugal e Espanha, começou por destacar que apenas 40% das empresas
tem página digital, considerando fundamental às empresas entrar na "onda” da
transformação digital.
«O digital está a transformar de forma radical a forma de fazer as coisas, desde a contabilidade à produção de produto, nos processos administrativos e na captação de clientes». A experiência que proporcionamos é essencial para nos diferenciar no mercado, e temos de estar onde estão os clientes, até nas redes sociais se é lá que estão, diz. «O mundo digital é uma oportunidade fantástica para as empresas, porque dilui as fronteiras geográficas», temos uma oportunidade de chegar ao mundo, de ter presença internacional. Temos de começar pelo mais simples, diz, e lança a provocação: "Quantas das nossas empresas estão focadas em Espanha? Quantos de nós tem o site em espanhol?”. «O online é uma continuidade do negócio físico», atesta.
Anabela Almeida, investigadora do NECE –
Research Unit in Business Science, considera que «a universidade não pode ficar
sentada à secretária», temos de chamar as empresas à universidade, saber o que
os empresários precisam dos alunos. Temos de preparar os estudantes e a
comunidade para o mercado.
A investigadora faz um diagnóstico à economia digital
nas empresas, e diz que há uma mentalidade "pequenina”. Os empresários tem
receio de mostrar os "segredos” do negócio, e perdem oportunidades de receber inputs positivos que melhorem processos
internos, que levem a poupanças. «As empresas se existem têm de se mostrar»,
diz, dar-se a conhecer para encontrar os RH mais capazes, encontrar linhas de
comunicação com as escolas e centros de investigação. Há também algum estigma
ligado aos estudantes, porque são jovens, há empresários que não acolhem as
suas sugestões por não lhes atribuírem credibilidade.
Na opinião de Vasco Lino, consultor do Grupo
Gesor, «as redes de colaboração são fundamentais, especialmente numa economia
como a nossa». Por outro lado, a economia digital é também um fator
diferenciador para o sucesso. A digitalização é muito importante na eficiência
dos processos e nos ganhos que isso acarreta, e é aplicável de forma
transversal a todas as áreas das empresas. Para Vasco Lino há três áreas
fundamentais para ganhar mais eficácia e rigor: infraestrutura, new business e e-commerce, além da cibersegurança, fundamental hoje, e cada vez
mais, nas empresas.
O LINK LAB CASTELO BRANCO foi promovido pela AEP
– Associação Empresarial de Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, que contou com o envolvimento da Deloitte, com o apoio da Konica Minolta, da Crédito y
Caución e da Iberinform, e com a colaboração da InovCluster. O projeto AEP LINK
é cofinanciado pelo Compete 2020, pelo Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional (FEDER).