A gestão das PME tem de se profissionalizar e desburocratizar
Meia centena de empresários estiveram dia 29 de outubro no LINK LAB BEJA para debater os
segredos de competitividade das PME. No encontro, que decorreu na CIMBAL –
Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, foram identificados alguns: a digitalização
dos negócios é inevitável e um fator decisivo para a sobrevivência das instituições,
a gestão tem de se profissionalizar, desburocratizar e dinamizar para que o
negócio se adapte às exigências de hoje, e o empresário deve focar-se nas
soluções e não nos problemas.
O objetivo do AEP LINK é promover o networking e impulsionar
negócios
A primeira parte do encontro debruçou-se sobre o projeto AEP LINK,
apresentado por Paula Silvestre, da direção da AEP Competitividade. «Este
projeto dedica-se a desenvolver os fatores críticos de desenvolvimento e de
escalamento das PME: a inovação, o investimento e a economia digital. 99% das
empresas do concelho de Beja são micro e pequenas, e isto é uma condicionante:
a dimensão condiciona a competitividade e a rentabilidade, e por isso é que
este projeto é dirigido às PME, porque atribui escala nestes fatores decisivos,
pela cooperação», explica.
«O objetivo final do projeto AEP LINK é promover o networking e impulsionar negócios», assegura, desafiando os
empresários a associar-se ao projeto para fazer parte desta rede de cooperação.
Fernando Romba, primeiro secretário da CIMBAL, assegurou o apoio da CIMBAL ao
projeto, rematando a intervenção desejando «um Baixo Alentejo mais amigo das
empresas, para atrair mais investimento para o território, porque empresas
fortes fazem territórios fortes».
Pedro Janeiro, manager na Deloitte, considerou que «o trabalho para
desenvolver este território tem sido feito muito pelos empresários e as
associações, e é um exemplo de cooperação para todo o país». O economista
defendeu que hoje as empresas não têm fronteiras na forma como fazem negócio, e
não têm limite nas fronteiras das regiões ou do País, assegurando que o projeto
AEP LINK é uma rede nacional que quer atender às necessidades e desafios dos
empresários portugueses, de todas as regiões.
«Na realidade atual não é possível competir sozinho, é preciso unir
forças e competir em conjunto, só coopetindo - cooperando para ganhar
competitividade - podemos ganhar dimensão e competir à escala global.
Precisamos de nos articular, criar riqueza, ter melhores resultados. É
absolutamente crítico trabalhar em rede, aderir a projetos que confiram escala
às empresas portuguesas». «E para que conheçamos exatamente quais são as vossas
necessidades e desafios, e possamos encontrar soluções, respondam ao questionário
que está em aeplink.pt, que nos permitirá fazer um diagnóstico às PME e criar
as ferramentas certas».
Gonçalo Azevedo, consultor da Deloitte, apresentou o dashboard interativo do
AEP LINK, uma ferramenta de comparação da performance
empresarial, que permite avaliar diversos indicadores decisivos no quotidiano
do gestor/empresário: «essencial para a definição da estratégia de qualquer
empresa». Júlio Boga, senior account manager na Deloitte, apresentou
a Bolsa de Oportunidades
do portal aeplink.pt,
explicando as mais-valias para os empresários em registar as suas empresas:
integram uma rede com associações, comunidades intermunicipais, investidores,
ensino superior, etc. «Esta é uma ferramenta de trabalho para encontrar
parceiros para os vossos projetos, a plataforma faz o match entre perfis e oportunidades que se complementam, pelo que só
têm a ganhar em identificar potenciais parceiros de negócio».
Não podemos estancar a digitalização das empresas
A Economia Digital foi o tema da conversa que se seguiu, dinamizada
pela Konica Minolta e moderada por António Laranjeira, partner da Midlandcom. Luís Bruno, docente na área informática no Instituto
Politécnico de Beja, defendeu que nos últimos anos tem havido um crescimento da
aposta na economia digital dentro das empresas, plasmada na procura de novos
profissionais na área, porém ainda abaixo da média europeia. «O mercado precisa
e solicita estes recursos humanos, a digitalização não tem como ser parada»,
assegura.
A digitalização pode acontecer a vários níveis dentro das organizações,
mas é a que acontece nos processos de gestão que é prioritária. É importante
perceber que a tecnologia não resolve tudo, é preciso que, por trás, os
recursos humanos deem suporte a essa tecnologia, e isso implica a
requalificação de quadros. O docente assegurou à plateia de empresários que a
oferta de formação nesta área existe, «há milhares de vagas no ensino superior
público, com empregabilidade a 100%: estes especialistas vão suprindo as
necessidades das empresas, mas estas são cada vez maiores, há muitas ferramentas
digitais a desenvolver».
Tiago Vieira, responsável pela área de infraestrutura tecnológica na
Konica Minolta, foi o outro membro do painel, e considerou preocupante a
realidade das empresas portuguesas, em comparação com a média europeia, defendendo
que se impõe perguntar como vamos "combater” as "airbnbs” e as "ubers” da vida,
que revolucionam o mercado, porque nascem digitais. «Temos de nos aproximar das
novas formas de vender, de ser mais produtivos e eficazes, já não estamos só
onde estamos fisicamente. Hoje comunicamos com tudo e com todos os pontos do
mundo. Não nos podemos cingir a fronteiras geográficas, a digitalização está a
acontecer e é inevitável, em qualquer setor». E no caminho "obrigatório” da
digitalização, é fundamental transformar o capital humano, e perceber que a velocidade
é enorme e tem repercussões.
«Não podemos estancar este movimento, e é fundamental não esquecer que
a tecnologia não é um fim, é um meio para transformar, produtos, serviços, processos,
e há imensas oportunidades para aproveitar. O empresário não se pode limitar à
atualização dos processos que lhe são mais visíveis - como a desmaterialização
da faturação – há outros processos onde aplicar o digital para beneficiar o
negócio». «Ou nos tornamos digitais ou teremos dificuldades em prosperar neste
mercado tão competitivo, e o facto de termos um novo secretário de Estado para
a transição digital é uma mensagem», destaca Tiago Vieira, acompanhado por Luís
Bruno, que considerou que a digitalização é inevitável, em todos os setores da
sociedade.
Sobre um dos desafios da digitalização, a cibersegurança, Tiago Vieira
lembra que é um desafio do presente, adiantando que cerca de 50% das empresas
já terão sido atacadas. «Morremos se não formos para o digital, mas há que ter
tecnologia de proteção, informáticos dentro das empresas, formação dos recursos
humanos, planos de contingência. Esta componente vai ficando para trás e pode
ser crítica».
A gestão das empresas tem de ser profissionalizada e dinâmica
Investimento foi o tema do painel que se seguiu, dinamizado pela
Iberinform e moderado por Pedro Janeiro. António Monteiro, country manager da
Iberinform Portugal, abriu a conversa falando do investimento privado, e
enumerando algumas das dificuldades das micro empresas: a política fiscal
pesada e a dificuldade de acesso a financiamento e ao crédito - que criam
problemas de liquidez, e impedem investimentos na entrada em novos mercados ou na
produtividade e eficiência - para as obter precisamos de ter recursos humanos
qualificados, que custam dinheiro.
Para António Monteiro há que descentralizar e ter políticas fiscais
distintivas, que premeiem a competência e o sucesso, seja empresarial seja dos
colaboradores, ideia acompanhada por Hugo Redondo, responsável de
desenvolvimento da Cargonet Online: «o sistema é cego, a carga fiscal é
pesadíssima, e é desmoralizador para o jovem empresário». António Henriques, diretor
executivo do grupo CH Consulting, focou especificamente a dupla tributação: «a
asfixia fiscal é um drama, as empresas pagam quer ganhem quer tenham prejuízo».
Para que as empresas tenham mais facilidade no acesso a financiamento,
António Henriques defende uma melhor qualidade na gestão e nos modelos de
negócio: «a gestão tem de ser profissionalizada e dinâmica». Quanto à
produtividade, que considerou ser "a grande discussão nas empresas em
Portugal”, defendeu que é um desafio de gestão: «a política de baixos salários
leva-nos a uma política de tolerância. A capacitação da gestão é decisiva,
porque uma coisa não se resolve sem a outra. Tem de ser um desígnio das
organizações e das pessoas termos uma cultura de transparência, para que a
produtividade seja uma realidade e contribua para a competitividade do negócio.
As pessoas têm de estar permanentemente a capacitar-se».
Hugo Cardoso, da direção de marketing de empresas do Millennium BCP,
deu a perspetiva da banca no financiamento às PME, e considera que a qualidade
da gestão é essencial. «Hoje dispomos de condições melhores do que nunca na
forma como concedemos crédito de forma responsável às PME, com soluções de
financiamento que se revestem de instrumentos financeiros e protocolos. Hoje o
banco está determinado em ser um parceiro», assegurou. António Henriques
acompanhou, considerando que «havendo boas ideias há sempre soluções de
financiamento, mas a estrutura de negócio tem de ser sólida». Hugo Cardoso
destacou ainda formas alternativas de financiamento, como o capital de risco ou
financiamento comunitário, que podem fazer a diferença no equilíbrio do
negócio, para tornar a ideia mais atrativa para a banca.
A desertificação do interior do País e a depauperização de recursos
humanos qualificados foram também discutidas como fatores que podem influenciar
a competitividade das PME. Para António Monteiro a desertificação não tem de
ser um problema, «estamos numa aldeia global, podemos estar no interior e
competir em Lisboa. O importante é melhorar os processos nas fases críticas do
negócio», considerou. Ideia partilhada por Hugo Cardoso, que explicou que os
projetos que têm sido apoiados na região têm muita qualidade e não há menor
especialização dos seus recursos humanos.
Hugo Redondo deu a sua perspetiva no que toca ao investimento nas PME,
contando a sua experiência, de criação da empresa com recurso a capitais
próprios. Para ele «não nos podemos focar nos problemas temos de debater as
soluções, e a sociedade tem de incentivar mais os jovens – a quem compete dar
resposta e acompanhar a inovação - a criar o seu próprio negócio, dentro das
próprias universidades. Temos de procurar resposta para o que não funciona,
acrescentar valor ao mercado, e construir um modelo de negócio. Ideias todos
temos, mas o modelo de negócio é que é fundamental».
O LINK LAB BEJA é promovido pela AEP – Associação Empresarial de
Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, que conta com o envolvimento da
Deloitte, com o apoio da Konica Minolta, da Crédito y Caución e da Iberinform,
e com a colaboração da CIMBAL. O projeto AEP LINK procura ajudar as empresas
portuguesas a crescer, através do desenvolvimento de práticas de cooperação no
tecido empresarial, em torno dos fatores críticos de competitividade: economia
digital, inovação e investimento, e é cofinanciado pelo Compete 2020, através
do Portugal 2020, no montante de 540.413,49€, dos quais 459.351,47€ pelo Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).